O coach é provavelmente um dos profissionais que mais se preocupam em trabalhar continuamente em seu desenvolvimento pessoal e profissional, e por isso dedicam muito do seu tempo em estudo.
Provavelmente porque o coaching tem muitas vertentes, e por ser uma ciência formada de várias ciências, sempre há algo novo para se aprender e aplicar.
O problema está quando o coach não consegue se livrar da necessidade de estudar, e inclusive adia a decisão de atuar com base na vontade de estudar mais.
Neste artigo vamos explicar um pouco de como isso acontece e é alimentado no mercado de coaching, e como se livrar da armadilha do conhecimento no coaching.
O que é a armadilha do conhecimento?
Você como coach já deve ter se pego no seguinte pensamento:
“Eu preciso estudar mais sobre determinado assunto para me tornar um coach melhor”
“Uma nova formação mais especializada vai me dar o conhecimento necessário para atuar da forma que eu quero!”
“Só mais um curso/livro/aprendizado e eu estarei preparado para gerar muito resultado!”
Estas são sentenças bastante comuns de coaches que acabam ficando presos na armadilha do conhecimento no coaching. Parte disso se dá pelo comércio da cultura de evolução que algumas escolas de coaching praticam.
Boa parte das escolas de coaching já comercializam sua gama de cursos em um formato de pacote, onde a compra de mais de uma formação entrega algum tipo de benefício para o aluno.
Até aqui tudo bem, faz parte da obrigação das escolas venderem mais cursos – o problema está na pressão psicológica e emocional que é feita durante os cursos para que os alunos entendam que precisam fazer as demais formações.
Então uma formação básica de coaching trará muitas ferramentas e técnicas suficientes para que o coach comece a atuar no mercado – mas durante o curso pequenas pistas ou sementes vão sendo plantadas na cabeça das pessoas.
– “Esta é uma ferramenta essencial, que será melhor apresentada no curso de business coach.”
– “…Uma técnica maravilhosa, que é ensinada na extensão de master coach.”
– “As técnicas de coaching Ericksoniano elevam muito a sua atuação como coach…”
Este perfil de colocação feita para incentivar a compra de novas formações acaba gerando uma situação de insegurança para os coaches em formação, que passam a estabelecer um padrão perigoso de pensamento: “O que eu tive nesta formação não é suficiente para começar!”
Esta crença na armadilha do conhecimento é limitante, pois atesta a incapacidade do coach com as técnicas já aprendidas, gerando a eterna sensação de que o que foi aprendido não é suficiente.
E então acabamos conhecendo coaches que contam com centenas de horas de formação, mas nenhuma hora prática de atuação, porque ficaram presos na crença de ainda não saber o suficiente.
Somado à esta crença fica a carga horária pequena das formações de coaching, que apesar de eficiente do ponto de vista do ensino acabam não propiciando horas de treino suficientes.
E como o coaching não é uma ciência cartesiana, as milhares de possibilidades de variação acabam alimentando uma sensação de despreparo por conta do coach, e o afundam mais na armadilha do conhecimento.
Um ciclo sem fim
O fato é que o coach preso neste ciclo de estudos nunca conseguirá se tornar um grande coach enquanto não aprender a balancear a relação de estudo e prática. É muito bem colocada a metáfora da respiração: O aprendizado é como a respiração: quando aprendemos, estamos inspirando, e apenas expiramos quando colocamos os ensinamentos em prática.
Agora, o coach que apenas inspira conhecimento e não expira prática vai chegar em um ponto de sobrecarga que não aguentará mais informação, e então sairá do fluxo do aprendizado, ou abandonará a prática.
O melhor caminho para se libertar definitivamente é entender esta dinâmica, e seguindo a mesma métrica, podemos considerar que cada hora de estudo deve ter uma hora de aplicação em correspondência.
O bom aprendizado é feito apenas quando conseguimos conciliar o estudo e a prática, que inclusive nos leva à direção das 10 mil horas de prática.
Este é um conceito trazido no livro Outliers, traduzido para o título “fora de série”, onde o autor explica a relação das pessoas que conquistam grande sucesso em suas áreas de atuação, e que está relacionado com uma média de horas de prática que fica na média de 10 mil horas.
Ser um coach precisa de 10 mil horas para atender em coaching e transformar vidas?
Certamente não. As formações que temos hoje no mercado são bastante profundas, e trazem conhecimento suficiente para entrar em campo, praticar, e conforme a necessidade ou vontade de evoluir surgir, que seja feita após a prática.
A verdade é que coaches teóricos nunca chegarão no patamar de excelência que desejam presos na armadilha do conhecimento e apenas com livros – é preciso pisar em campo, praticar, praticar e praticar.
Nada melhor para começar do que começar com o que você tem – desde que você de fato tenha uma formação.
Uma formação é suficiente – as demais são a evolução da prática.
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