Umas das principais habilidades de um coach provavelmente será a capacidade de mudar a vida das pessoas através de hábitos.
Hábitos são ações constantes do nosso piloto automático pessoal que levam a determinados resultados, podendo ser resultados positivos ou negativos. Agora, o coach pode trabalhar especificamente na mudança de hábitos?
Vamos discutir isso neste artigo, falando um pouco sobre a forma como o coach pode abordar a formação de hábitos durante seus processos de coaching.
Hábitos x evolução
Para entender bem a natureza dos hábitos, precisamos entender como o nosso cérebro opera. Nossa mente precisa tomar milhares de decisões a cada dia da nossa vida.
Neste exato momento, sua mente está decidindo se continuar lendo o artigo é interessante, se vale a pena olhar para os lados, se você vai tomar água agora ou depois – mas 99% destas decisões nós não tomamos conscientemente.
A nossa mente adota as decisões mais simples para se adequarem melhor à nossa prioridade de vida: economizar energia para sobreviver. Então todos os dias tomamos decisões no piloto automático da mente, e boa parte destas decisões acabam se tornando hábitos.
Agora, segundo estes parâmetros de sobrevivência, evoluir não é uma prioridade, e inclusive em muitos casos é algo da qual devemos instintivamente fugir, afinal aquilo que nos força a mudar nos coloca em perigo.
Então nós podemos afirmar que evoluir e criar hábitos não são duas coisas naturalmente amigáveis – mas através de um processo, nós podemos adaptar hábitos para prover a evolução.
A relação de hábitos e objetivos
No processo de coaching, como método de evolução, estamos acostumados a lidar com objetivos, e muitas vezes as pessoas tem dificuldade de alcançar objetivos pelo fato de tratá-los como eventos isolados, para ser administrados paralelamente à vida.
Quando você entende que o objetivo deve ser incorporado à vida e a rotina, fica muito mais simples de atingir este objetivo – e a forma de fazer isso acontecer é justamente transformando um objetivo em hábito.
Imagine o caso de um coachee num processo de coaching de emagrecimento que queira perder 20 quilos. Após as validações do objetivo, perceba que você pode transformar uma parte deste objetivo em um hábito a ser cumprido, como por exemplo, subir 2 lances de escada por dia no trajeto de volta para seu apartamento.
O simples fato de traduzir objetivos em hábitos potencializa as chances do seu cliente cumprir esta tarefa recorrente. Atingir um objetivo, em alguns casos, é a frequência de realização de pequenos hábitos consistentemente.
Como criar hábitos
A criação de hábitos para um processo de coaching pode seguir diversos moldes, mas certamente a fórmula mais consagrada foi aquela revelada no famoso livro “O Poder do Hábito”, do autor Charles Duhigg.
Duhigg descreve a automação de um hábito, ou loop do hábito, como um processo de 3 etapas:
- Deixa: Tudo começa com a deixa, que é o gatilho que dispara o acontecimento do hábito, liberando um sinal para o cérebro desempenhar determinada tarefa;
- Rotina: É a atividade que é liberada quando a deixa é acionada;
- Recompensa: É a sensação ou prêmio que se alcança por realizar a tarefa do hábito;
Tudo está conectado neste loop do hábito, afinal quanto maior, ou melhor, ou mais prazeroso para o cérebro for a recompensa, maior o reforço recebido pela ação da rotina, que intensifica a vontade de receber o estímulo com a deixa.
Este processo de criação do hábito pode ser explorado pelo coach para geração de hábitos potencializadores, que favoreçam o alcance do objetivo para o seu coachee.
A verdade é que muitos coaches já usam parte deste processo nas técnicas de ancoragem de sentimentos, por exemplo, onde a deixa não é inconsciente, mas consciente, e desencadeia um determinado gesto que libera como recompensa a sensação que estiver ancorada ao gesto. Ancoragem no coaching é a formação de hábitos emocionais. Sendo um processo tão familiar, não será difícil para o coach ajudar o seu cliente a configurar hábitos de poder em sua rotina.
Se pegarmos o exemplo de um cliente que quer comprar uma casa, mas tem hábitos consumistas – o desafio de hábito neste caso pode ser colar um post-it ao cartão de crédito do cliente com a seguinte frase: “Esta compra te deixa mais próximo da sua casa?”
Esta será a deixa ou gatilho que vai fazer com que o coachee quebre o hábito de compras impulsivas, e adote o hábito de pensar em suas compras conscientemente, além de reforçar a rotina de mentalizar a sensação de alcançar a sua casa própria, e com isso gerar a recompensa de saber que a cada gasto compulsivo abandonado, o cliente fica mais próximo de sua casa própria.
A criação de hábitos pode, então, ser usada como estratégia para estabelecimento de novos hábitos, bem como para a quebra de hábitos ruins, entendendo qual o gatilho que libera o hábito ruim, tentando eliminar ou minimizar a incidência desta deixa.
Então o coach pode e deve usar da ciência por trás da criação dos hábitos para ajudar o seu cliente a atingir seus objetivos. Os hábitos no fim das contas se tornam grandes aliados do processo de coaching – quando usados com sabedoria e estratégia.
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